
Sem muito alarde, os dois mais tradicionais jornais piauienses amanheceram neste sábado (28/01) com novidades: suas edições de sábado e domingo serão compiladas em apenas uma, chamada de “edição de fim de semana”. Ou seja, sem jornal novo circulando aos domingos.
Uma forma de economizar papel de jornal (que é caro), custos de entrega e horas extras de jornalistas e gráficos, os jornais O Dia (o mais antigo) e Meio Norte (o de maior circulação) tomaram conjuntamente a decisão de publicar edições únicas para o final de semana. A iniciativa pode ser avaliada como uma estratégia de mercado fraterna de dois concorrentes que seguem os passos de um terceiro, o Diário do Povo, cujas edições de final de semana existem desde que o impresso passou do comando do grupo Damásio para o do publicitário Fábio Sérvio, no final de 2016.
A iniciativa pode ser avaliada como uma estratégia de mercado fraterna de dois concorrentes que seguem os passos de um terceiro, o Diário do Povo
COM E SEM EXPLICAÇÕES
Enquanto o jornal O Dia optou por não aprofundar-se nas explicações, trazendo um editorial em que explica a mudança alegando “tendência do mercado nacional” e intitulando um dos cadernos com o nome “Fim de Semana”, o Meio Norte – como é de praxe nos produtos do grupo – optou pela visibilidade e produziu uma matéria no novo caderno “Mais”, com chamada na capa anunciando a novidade.
Se por um lado, o Meio Norte efetivamente deixa de circular um dia por semana (o que é um fato negativo), por outro lado, traz colunistas novos – nomes de peso da casa (o que é um fato positivo), equilibrando assim a balança do que o leitor perde e ganha com a mudança.
NOVOS COLUNISTAS MIGRANDO DA TV PARA O IMPRESSO
O jornalista Ananias Ribeiro, editor de Política do impresso e que assina a coluna Opinião desde a saída de Elisabeth Sá, enfim teve seu nome reconhecido como autor da coluna política “Opinião”. O editor-chefe do jornal, Arimatea Carvalho, também assina coluna de página inteira, enquanto espaços nos mais diversos cadernos são ocupados pelos apresentadores da Rede Meio Norte, Amadeu Campos, Gilvan Barbosa, Virgínia Fabris, Raquel Dias e Lia Formiga. Trazendo nomes reconhecidos e com público cativo na televisão para o impresso, o Meio Norte aposta nas pratas da casa para tentar injetar novo fôlego no produto.










ROTINA NA REDAÇÃO E POLÊMICA COM SINDJOR-PI
A edição de domingo dos jornais impressos costuma ser a mais robusta, com material aprofundado. Durante a semana, os repórteres são pautados para matérias “especiais”, que devem produzir concomitantemente ao material diário e factual. Esse conteúdo normalmente é editado e rodado nas gráficas em parte durante a semana e o restante nos finais de semana. Em escala de plantão, jornalistas e editores revezam-se aos sábados e domingos para que o jornal não deixe de chegar às bancas e às casas dos assinantes nenhum dia.

Com a mudança para uma edição única de final de semana, as escalas de trabalhos desses profissionais tiveram que ser modificadas, o que chamou a atenção do Sindicato dos Jornalistas do Piauí (Sindijor-PI). Em nota publicada no perfil da entidade no Facebook, o sindicato alerta para a legislação trabalhista.
A diretoria do Sindjor-PI informou que já solicitou ao superintendente regional de Trabalho e Emprego no Piauí, Felipe Salha, a convocação de uma mesa de negociação para tratar de alterações na jornada de trabalho do jornalista em curso nas empresas O Dia, Diário do Povo e Meio Norte. Segundo a entidade, as alterações ferem a legislação trabalhista e resoluções do Tribunal Superior do Trabalho.
“As referidas empresas decidiram, sem ouvir os trabalhadores e o Sindjor-PI, acabar com a folga dos jornalistas aos domingos. Pelas mudanças previstas para acontecerem a partir do próximo final de semana, os jornais O Dia e Meio Norte, seguindo o exemplo do Diário do Povo, deixarão de circular aos sábados e domingos. Com isso as edições de sexta-feira circularão com as datas de sábado e domingo. Todos os jornalistas serão obrigados a trabalhar três domingos, sem as diárias dobradas, como prevê a CLT”, destaca a nota do Sindjor-PI.
As referidas empresas decidiram, sem ouvir os trabalhadores e o Sindjor-PI, acabar com a folga dos jornalistas aos domingos, alega Sindjor
“O Sindjor-PI oficiou ao superintendente regional de Trabalho e Emprego no Piauí pedindo que a mesa de negociação com as empresas seja realizada o quanto antes, separada das negociações do Acordo Coletivo de Trabalho, que terá a este ano a mediação da SRTE-PI”, completa o texto.
JORNAIS NO PIAUÍ: UM HISTÓRICO
Jornal Meio Norte
O Jornal Meio Norte pertence ao Sistema Meio Norte de Comunicação, fundado em 1º de janeiro de 1995, oriundo de uma organização midiática que inclui rádios, emissora de TV e portal na internet. O coordenador de jornalismo do Sistema é José Osmando de Araújo e o editor executivo é o jornalista Arimatea Carvalho. O jornal surgiu quando o empresário Paulo Guimarães adquiriu a estrutura do antigo jornal O Estado, que pertencia a Helder Feitosa. Nesta época, o empresário já possuía uma televisão, a TV Timon, hoje Rede Meio Norte, e uma rádio FM. Com o novo proprietário, o antigo O Estado mudou de nome e de projeto gráfico. Entre as empresas do Grupo Meio Norte estão a Canadá Veículos, Shopping Riverside e Hospital Aliança Casa-Mater.
Além do impresso, o sistema tem a TV Meio Norte, o Portal Meio Norte e as rádios Meio Norte FM e Boa FM. O jornal é considerado o maior do Piauí tanto em termos de quantidade de profissionais como de circulação. O veículo impresso foi o primeiro a circular durante as segundas-feiras no Piauí, e mudou seu projeto gráfico de maneira radical em 2003, com o uso abundante de cores, o que não era comum nos demais jornais do período. A diagramação tradicional deixou espaço para o trabalho realizado pelo computador, em uma decisão pioneira. Já em 2005, as fotos de papel foram substituídas integralmente pelas digitais.
Jornal O Dia
Mais antigo jornal impresso em atividade no Piauí, o Jornal O Dia integra o Sistema O Dia de Comunicação, foi criado no dia 01 de fevereiro de 1951 pelo professor Raimundo Leão Monteiro. No início, circulava semanalmente e em 1963 foi comprado pelo coronel Otávio Miranda – falecido em 2012 – que começou a expandir o jornal. Teve entre seus colaboradores o poeta Torquato Neto e o constitucionalista Simplício Mendes. Com os anos o avanço tecnológico foi chegando e sendo feita a aquisição de novas máquinas.
Em 2004 e 2010 o jornal ganhou novos projetos gráficos e ficou mais moderno. O atual presidente do jornal é Valmir Miranda, e a editora-chefe é Elisângela Carvalho. O Sistema O Dia de Comunicação possui além do jornal, que é seu principal veículo informativo, um portal de notícias na internet, o Portal O Dia, e a TV O Dia, assistida pelo link do portal. A princípio, o jornal era semanal, já que as notícias de Teresina na época não demandavam uma publicação diária, e as máquinas gráficas necessárias para um jornal diário não haviam chegado na cidade.
Entre os períodos de crise do impresso, está a crise mundial do petróleo, em 1973, quando os reflexos econômicos no Brasil diminuíram a quantidade de páginas do veículo de comunicação. Em seguida, o jornal supera a fase ruim, implanta a impressão off-set e estrutura as redações em editorias. O jornal passou a ser colorido em 1994. Dez anos depois, em 2004, O Dia passou a ter um novo projeto gráfico, valorizando mais as imagens.
Jornal Diário do Povo
O Jornal Diário do Povo teve sua primeira edição impressa no dia 27 de setembro de 1987, e foi criado pelos empresários Aerton Cândido Fernandes e Clementino Costa para dar apoio ao governo Alberto Silva. Um ano depois, o empresário Rufino Damásio comprou o jornal se propondo a ter uma linha editorial independente.
A presidência do jornal era exercida pelo empresário Danilo Damásio desde 1997 e o cargo de editor-chefe era ocupado pelo jornalista Zózimo Tavares. A sustentação comercial do jornal acontecia principalmente através das empresas comandadas por Rufino, como o Metropolitan Hotel, Gráfica do Povo, motéis Garden e Aflodite e Motobike Peças e Acessórios.
No final de 2016, o Diário do Povo foi vendido para o publicitário Fábio Sérvio, que implementou mudanças no projeto gráfico e contratou nova equipe, aproveitando em sua maioria nomes já tradicionais no mercado jornalístico. A editora-chefe é Thais Loiola, que assumiu com a saída de Ednal Cícero, antigo secretário de redação do impresso.